Nesses tempos de páscoa, além da libertação dos coelhos, e
mais difícil ainda, a libertação dos chocolates, nos flagramos embaraçados em
muitos outros cativeiros na vida.
Por exemplo, o cativeiro da auto supressão, em favor de
terceiros. É quando nos anulamos a vida toda para dar vez às pessoas com quem
nos relacionamos e amamos. O problema é que isso vai se transformando em vicio,
mania, prisão mesmo.
Deixamos de nos expressar, por medo de sermos mal
interpretados, por medo de ferir seja lá quem for, por medo de ser contrariado
ou contestado, por medo de assumir nossa identidade perante as pessoas. Nesse
ritmo, vai se anulando vida a fora.
É um modo de viver perverso, onde nunca se diz o que se
pensa, nunca se expressa com espontaneidade, nunca assume as próprias opiniões,
nunca faz o que se gosta.
Pelo contrario, vai comendo tudo o que se bota na mesa sem
questionar só porque o outro gosta e quer, vai concordando sem no fundo
concordar, vai vestido o que querem que se vista, em fim... Vai vivendo a vida
dos outros e pelos outros.
Ai se vê: mães que auto se anulam por filhos durante toda a
vida nas questões mais simples as mais complexas, pais que vivem a vida dos
filhos e para os filhos se esquecendo de viver as suas próprias, esposas que se
despersonalizam e vivem a vida do marido e vice versa.
A questão é se a alma suporta viver assim. O individuo vai se anulando em função dos relacionamentos e acaba por perder a própria
identidade, sua identidade vai ficando difusa, misturada coma identidade do
outro, e a partir dai uma frustração vai dolorido a alma. É a frustração de não
ter sido o que de fato se é ao longo da vida: não ter comido o que gostava, não
ter vestido o que curtia, não ter ficado com quem de fato amava, não ter dito o
que queria dizer, ficando entalado, empanturrado de opiniões, convicções e
verdades que nunca foram ditas, não ter decidido nunca por si mesmo, em fim,
não ter vivido.
Além disso, fato é que quanto mais nos anulamos em favor das
pessoas com que nos relacionamos vida a fora, mais algumas delas abusam de nós. Se tornando parasitas hospedeiros, vivendo em nós,
através de nos, decidindo por nós, se aproveitando da nossa fraqueza, da nossa
falta de coragem para assumir nossas próprias vidas.
Não dizer o que se pensa e não viver o que se é na medida do
possível é deixar de contribuir para construção do semelhante com os traços da nossa
personalidade.
Não agir segundo a sua consciência é entra em guerra com sigo
mesmo, isso por que quando se agrada as pessoas, desagradando a si mesmo, se
entra em rota de colisão com a própria consciência.
Não estou dizendo que não devamos renunciar alguns gostos,
desejos vontades e opiniões em amor e por amor as pessoas. O que estou dizendo
é que transformar essa renuncia que deveria ser uma exceção em rotina, em estilo
de vida é suicídio da alma, é morte em vida.
Experimente dizer não,
quando alguém que te rouba o direito de fazer o que você gosta, chegar mais uma
vez para te violentar na sua liberdade.
Caminhe com as próprias pernas, você verá como é gostoso,
como é bom ser dono das próprias escolhas, governar a própria vida.
Jesus disse o que pensava, viveu com
autenticidade, até apanhou e morreu pelo que disse e por causa de seus posicionamentos
na vida. Mas, passou por este mundo completo, inteiro, viveu sua vida
intensamente, para nos ensinar que ninguém tem o direito de tentar nos anular
na vida.
Deus viu Eva conversar com a serpente, e
percebeu o perigo e o risco altíssimo de perder o casal, contudo, não interviu,
deixou que o homem vivenciasse seu desejo pelo fruto, sua vontade de obter o
conhecimento do bem e do mal, expressasse sua opinião, exercesse seu livre
arbítrio de conversar ainda que fosse com a serpente. Evidentemente que todos
nós somos responsabilizados pelas nossas escolha e decisões.
Se Deus não nos anula, por que nós nos sabotaremos, nos
negando o direito de sermos nós mesmos perante a vida e as pessoas.
Pense nisso.