domingo, janeiro 15, 2017

Parece que nascemos programados para consumir. É como se um programa de computador fosse instalado dentro de nós, que nos faz agir, pensar, sentir e nos comportar a partir do consumo, da aquisição, da obtenção, da realização pessoal, da satisfação e da felicidade. 
Quando tais valores não se concretizam, a vida emocional adoece. E adoece justamente porquerodamos com esse programa, que nos condiciona a sermos felizes a partir das realizações mais simples as mais complexas. 
Uma vez programados para sermos felizes a partir das satisfações mais diversas da vida, se tais satisfações não se concretizam, passamos a viver sob o signo da ansiedade, do mau humor (amargura), e da infelicidade. 
Mas, não é só o consumo desenfreado, patológico, compulsivo de bens secundários a que me refiro; falo também desta realização de sonhos, de projetos, de planos. Coisas boas e muitas vezes necessárias, como uma casa por exemplo. Tais aquisições, uma vez não conquistadas, nos faz muito mal. 
A final, quem nos programou a viver assim? Seria uma influencia macro, fruto de uma ideologia de governo; uma política de governo; um sistema social, do tipo capitalista e comunista? Ou, seria um legado dos pais, uma cultura familiar, uma herança tradicional de famíliaonde os nossos ancestrais nos deixaram como legadouma educação que recebemos em família de forma expositiva e exemplar em que o consumo é a receita da felicidade?
A final, somos hedonistas? Somos amantes do prazer e da satisfação? Isso é pecado? Isso é uma patologia emocional? 
Eu queria vir aqui, não para dar uma solução; queria deixar esse dilema no ar, deixar essa questão conflitante para pensar, mas o meu vicio de professor e pregador às vezes me trai, e quando me percebo, já estou sentado escrevendo possíveis respostas, para as perguntas mais difíceis da vida.
Mas, desafio a qualquer um, ate o matuto mais pacato da roça, do campo a me provar que nunca na vida, desejou algo melhor, nunca sonhou com uma mula nova, um par de botinas, ou um rancho pra criar galinhas. 
Viver satisfeito não é anular o desejo de bem estar e de posse que nos foi presenteado por Deus no éden.  Ou, se você é evolucionista: as conquistas progressivas do homem primitivo (fogo; roda; ponta da lança de pedra e depois de metal; vestuário que protegia do frio; valores conquistados como o clã, a família, e etc...). 
É inerente a raça humana ter os anseios, sonhos, desejos e necessidades satisfeitas, como contribuinte da saúde emocional. 
Penso que o que não deveríamos permitir em nós, é a morte de valores maiores e excelentes, como a relação com Deus, as relações interpessoais (família, amigos e o próximo de modo geral), a honestidade (porque no afã de conquistar ou na escassez, nos corrompemos); a vida atrelada, ancorada em algo maior e mais sublime (Cristo), que nos impedisse de praticar o suicídio quando a escassez chegasse. 
Talvez por isso, o salmista não nega na sua oração a necessidade de ter e possuir, mas, também declara não estar pedindo riquezas a Deus, para não se corromper.
“Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; mantém-me do pão da minha porção de costume; Para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão.”                                                                                        Provérbios 30:8,9

Coelet (O pregador) nos ensinando magistralmente sobre o hedonismo nos ajude a caminhar na direção do equilíbrio. E Salomão é, sem duvida, uma pessoa credenciada, indicada, para nos falar do enfado e do ostracismo provocados pelas conquistas. Isso porque se um pobre, fracassado falasse, seria um despeito, um frustrado criticando, porém, quando um homem bem sucedido denuncia a futilidade, o vazio, a ilusão que são as conquistas, isso tem credibilidade, porque, nos soa com autoridade e experiência de quem viveu.
Disse comigo: vamos! Eu te provarei com alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade. Do riso disse: é loucura; e da alegria; de que seve?                                              Eclesiastes 2:1,2

E finalmente, a melhor receita, o melhor antídoto contra a ansiedade e, um dos mais poderosos produtores e conservadores da paz é o espirito de contentamento, chamado por alguns de conformismo, ausência de ambição ou medo de crescer.
Ser contente, estar contente é uma das mais fortes e irritantes recomendações do novo testamento, para essa cultura moderna do consumismo e da ambição social do crescimento.  De fato, não tem para onde corremos: o texto nos convida claramente a pensar, sentir, e viver na direção oposta do que esse mundo e, essa sociedade moderna pensa e vive. 
Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.  (1 Timóteo 6:8).
Perceba que, o que precisamos de fato ter, é o básico:sustento (comer) e nos cobrirmos (proteção contra o frio e o sol: roupas).
Pregar isso hoje é extremamente difícil, mas é o caminho da paz, o segredo de uma vida sossegada. É que, ter paz por esse caminho, ninguém quer. Dai, recorre-se aos remédios. As pessoas dizem: deixa-me com a minha compulsão, eu prefiro tomar tranquilizantes, que viver fora desse circuito louco e deliciosamente alucinado, que é este mundo consumista e compulsivo.
Jesus, antes de Paulo deixou esse mesmo antídoto contra a ansiedade patologica: 
Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Mateus 6:31).
E aqui, a ansiedade é, se é que podemos dizer: uma ansiedade justa, pois se preocupa com questões básicas(comida e bebida), e não com um smartphone, por exemplo. 
Mas, pelos critérios de Jesus, nem com estas, devemos nos preocupar. 
Por ultimo, a desprogramação de nossas mentes com esse software hedonista passa por uma reeducação, uma reprogramação na maneira de pensar e agir. Veja o que Paulo nos ensina sobre escassez e abundância: 
Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade.( Filipenses 4:12).
Estas coisas se aprende; é o que Paulo nos revela. criança precisa ser educada a viver com o que se tem, a se conformar com o que não pode ser comprado; o adulto precisa aprender a viver em paz: na falta, no pouco, na escassez; precisa ser sábio na abundância. 
O caminho então é o caminho do equilíbrio, do bom senso, da lucidez. Ter é bom, mas não a qualquer custo (custo da própria alma); possuir, só se não formos possuídos pelo que possuímos. Possuir, só se não formos escravos do que possuímos. E, que possamos nos desvencilhar do que possuímos tão rápido quanto o arrebatamento da igreja (I Co 15:52), porque nada deve nos prender aqui. 
Devemos passar pela vida desfrutando sem morrer, sem nos embaraçar pelas dádivas que ela nos traz. Foi por isso que Paulo, inspirado pelo Espirito Santo, disse que não é crime, blasfêmia, pecado: ter, possuir, adquirir, buscar, almejar, sonhar; mas, devemos viver como se não tivesse, como se não possuísse, como se não fosse refém daquilo que se almeja ou se tem. e o motivo é que o tempo se abrevia e, o tempo que resta é para ser vivido desprendido, livres, sem apegos, sem prioridades acima de Cristo. 
Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; E os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa.
(1 Coríntios 7:29-31).
Destaco aqui, primeiro: “e os que compram, como se não possuíssem...”.
Jesus é tão bom, que nem o shopping foi proibido. Vai, compra, adquire, mas, cuidado com a posse. Tenha e viva como se não tivesse, não venere, não entronize, não se deixe cativar e prender pelo sentimento avido pela aquisição que não tem fim, que nunca se sacia.
O segundo destaque e, aqui termino é: E os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa.”.
Isso é forte porque, nos ensina primeiro que, não tem santo que não use deste mundoo cara pode ser o mais eremita possível, o maior defensor do isolamento social possível, seu voto de pobreza pode ser o mais radical possível, religioso mais conservador e legalista do mundo, não importa, usara deste mundo. O mundo esta aí para ser usado mesmo. Foi assim que tudo começou; alias, é a ordem de Deus em Genesis: “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (Gênesis 2:9);E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, (Gênesis 2:16). E Paulo me parece, estar falando do mundo coisas, bens, aquisições, aquisões, consumo, lazer, prazer e etc. 

A grande ressalva que Paulo faz no “usar do mundo” é: não abuse
E destaque também o termo abusassem, que na língua grega pode ser traduzido como: usar de forma indevidausar de forma excessivausar inadequadamenteusar moralcometer excesso
Afinal, não e esse o comportamento do homem do mundo: usar em excesso, usar de forma desregrada, viver em função daquilo, deixar que o mundo-consumo lhe domine, lhe dite as regras, lhe adoeça?

Que Deus em Cristo, nos guarde, e nos conduza pelo caminho da sabedoria, do equilíbrio e da saúde para gloria do seu nome e, salvação nossa.

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