Paciência para esperar e não morrer

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Talvez a maior dificuldade para nós seres humanos nesta questão da espera, seja a tentação residente em nós mesmos de querer fazer as coisas acontecerem quando isso não é possível. De querer agir por conta própria, de querer fazer a nossa moda, do nosso jeito, de querer criar um caminho alternativo, já que o original que esperamos não vem. É essa ansiedade galopante que faz com que nos lancemos precipitadamente na direção do objeto de desejo que esperamos.

Essa inquietação acontece nas filas de repartição publica, filas de banco, na espera torturante pela decisão judicial de um processo de nosso interesse, na espera agonizante de um dinheiro que nunca é depositado na nossa conta, na inquietante expectativa da realização de um sonho, na espera de um dia especial, uma data importante, ou na expectativa esperançosa pelo fim de um sofrimento na vida.

Existem momentos na vida em que a capacidade humana, a habilidade pessoal, a força de vontade que alguns demonstram ter de forma especial, o espírito de luta, a vontade de vencer, a ajuda de outras pessoas, a boa formação, a cultura o conhecimento empírico etc. Não movem nossas vidas, não mudam a nossa realidade, não nos alavancam para frente, não nos tira do buraco, não remove pedras, não abre espaço, não muda a nossa sorte; que o diga Jó.

Estes são momentos de Deus para crente ou não crente, para beatos ou ateus. É à hora de Deus, em que Ele para a vida, estaciona o nosso carro, puxa o freio de mão, nos paralisia, nos retém, nos faz sentar, nos faz calar, nos mobiliza. E nesse tempo, não adianta: se debater, espernear, chorar, gritar, falar mal, fechar a cara, amaldiçoar a vida, lamentar o dia em que nasceu, murmurar, azedar o coração, amargurar-se, envenenar-se.

Nesse tempo, nós sofremos varias sensações:
1ª - A sensação de que estamos perdendo tempo. O tempo esta passando e nós não estamos aproveitando. De que um dia será tarde demais.
2ª - A  sensação é de que nós não estamos fazendo de fato tudo o que poderíamos fazer para sairmos deste cativeiro. De que ainda não tentamos de fato sair desta situação, de que estamos nisso, não porque Deus nos fez refém, mas porque não nos esforçamos de fato para mudar o quadro.
3ª - A  sensação é de toda essa estória de esperar em Deus é uma grande bobagem. Deus não está nem ai para esse momento em que estamos vivendo. É quando passa pela nossa cabeça a impressão de que Deus nuca teve responsabilidade por tudo o que estamos enfrentado, e que por isso não tem obrigação de nos tirar disto. 
Alem destas sensações sofremos uma espécie de cansaço na e da vida, um desanimo existencial , provocado pelo tédio de ter que esperar e não poder fazer nada em relação a esta espera.
Em algum momento dentro deste processo começamos a desistir de ser crente, e isso ainda não é o fundo do poço, ainda não é o pior posto que, desistir de ser crente é mais uma desistência de ir à igreja, de participar dos encontros religiosos, das atividades dentro da comunidade cristã do que desistir de Jesus.

 No fundo, - dentro desta frustração de esperanças malogradas - nós brigamos, esperneamos, renunciamos a igreja, os crentes, as atividades religiosas, os costumes denominacionais, os rituais, as modas, o chavões evangélicos; mas ainda carregamos Jesus lá no fundo. Bem no fundo ainda esperamos por Ele; só não queremos dar o braço a torcer. 

O inferno é quando começamos a negar a fé, a perder Jesus, a entrar, não em rota de colisão – porque quem entra em rota de colisão com Jesus, ou é atropelado por Ele para a vida ou é atropelado por Ele para a morte, com isso conclui-se que há a esperança de vida nesta colisão - Mas quem se afasta dEle envenenado pelo ressentimento de ter se decepcionado supostamente com Ele – essa decepção antes de ser culpa de Jesus é nossa mesmo, pelo fato de esperarmos dEle naquilo que Ele de fato, nunca se comprometeu em nos dar ou satisfazer o desejo que esperávamos. Daí, morrer de frustração e ressentimento com Deus por questões de baixo valor eterno é burrice minha e de toda a raça humana – mas quem dEle se afasta vai morrendo aos poucos na vida, vai empedrando a alma, vai se desfazendo em plena existência.

A vida é básica, como nos ensinou Jesus. Viver é simples, mas nós sofisticamos a vida, transformados a existência numa complexidade neurotisante – como viver sempre buscando, lutando, colocando alvos materiais acima do bem estar da alma, se degladiando com pessoas por causa de espaço e posição, se desfazendo psicologicamente por causa da impossibilidade de mudar as outras pessoas; a tortura por não ter sido bom o suficiente ou por não ter se realizado na vida; a luta para tentar a todo custo satisfazer as pessoas, para tentar agradar os outros, mesmo que anulando a nós mesmos o tempo todo etc. - Viver assim é penoso, estressante, e extremamente frustrante.

Mas o que tudo isso tem haver com esperar?

É simples; é justamente por termos essa inquietação básica, essencial, cultural e inconsciente na alma, que não nos deixa ser tranqüilos, calmos para esperar, satisfeitos, pacientes, contentes com o que temos, com o que somos, com a nossa historia é que definhamos, morremos na vida. No fundo, essa incapacidade de esperar é uma patologia básica, alojada na essência do ser, fruto de uma ausência de satisfação de contentamento com o que se é, com sigo mesmo. E por não ser satisfeito por dentro, com sigo mesmo, com o que se é, é que se busca desesperadamente a construção do ser com o que não se tem, com o que esta do lado de fora, daí vem a busca sem paz, sem sossego sem discernimento sem lucidez.

Como Jesus ensinou:
Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir?(Mt.6.31).
E Como Paulo disse uma vez:
“Porque nada trouxe para este mundo, e nada podemos daqui levar; tendo, porém, alimento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. (I Tm. 6.7 -10).
 
A única palavra que tenho para mim mesmo, você e todas as pessoas que eventualmente ainda esperam em Deus e por Deus e esta:
“Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor”.(Sl. 40.1).

E a garantia desta chegada de Deus para todos nós é a beleza do seu caráter, Ele é fiel, Ele sempre chega, de uma forma ou de outra, trazendo o que esperávamos ou não, Ele sempre chega.

Tenhamos paz, tenhamos quietude na existência, para não morremos em vida.


Cristo nossa paz.

 

Marcio Oliveira





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