O homem acima de Deus

segunda-feira, janeiro 11, 2016

Veja um fragmento de um texto acadêmico, que trata da questão do secularismo e da religião: 
"A modernidade se caracteriza pela colocação do indivíduo como medida e como fim."

Isso quer nos dizer que o homem, dentro da visão pós-moderna, esta com suas atenções voltadas para o homem num sentido religioso, filosófico e existencial.

A divindade perdeu o foco, inclusive teológico, posto que, teologicamente o que se vê hoje é uma abordagem bíblica litúrgica, à partir do homem.

As necessidades humanas vão ganhando espaço e importância a medida em que Deus vai se tornando um ser prestador de serviço, um protetor, um auxiliador, um socorrista um sanador de problemas dos seres humanos.

Assim, o homem vai se tornando o centro de onde emana as necessidades e para onde demandam todas as atenções da vida, inclusive Deus.

Que mal há nisso? 
O mal, é que tudo passa a ser medido a partir do homem, inclusive as questões morais e espirituais.

Passamos a perceber também uma secularização nos anseios e desejos e uma diminuição de anseio pelo transcendente, pelo eterno, pelo espiritual.

A fome de Deus por Deus, sai e entra em cena uma fome daquilo que Deus pode fazer.

Percebe-se a perda da devoção pura, simples e desentereceira, passando a vivenciar uma religião puramente mercantilista, onde a busca por uma confortável vida social passa a ser o grande foco do indivíduo.

Essa teologia acaba por estabelecer a ansiedade como elemento constante na vida e nas relações verticais.

A pressa por satisfazer as demandas material superficializa a vida, transformando o ser num mero depósito de conquistas.

Os cultos perdem a graça divina e o poder, posto que, é voltado para o homem e suas demandas, com manifestações de autopromoção, minimização dos pecados, a colocação do ser como digno de todos os caprichos possíveis.

Essa maneira de crer e vivenciar a religião é secularista por absorver e praticar uma das facetas do termo, que é a vida focada nas solicitudes, demandas e anseios da vida secular.

É na pratica a descrição de vida denunciada por Jesus em Mateus : 
"comiam, bebiam, casavam e davam - se em casamento...".

Preciso neste momento pensar em Adão, que tinha tudo na vida (o jardim, com sua exuberância e fartura ) e principalmente a presença e a pessoa de Deus. e mesmo assim queria mais....queria o fruto (que parecia gostoso) queria poder e estatus: o conhecimento do bem e do mal. Não seria essa ambição desenfreada que caracteriza a religiao deste tempo? Uma insatisfação perene, velada, que nos inquieta e nos faz viver em função de buscas a ponto de transformar os cultos a fé e a divindade em meras ferramentas que possam viabilizar a satisfação dessa busca.

Com isso não prego a anulação do ser, com suas necessitades de realização, e satisfação de sonhos, o suprimento de demandas básicas, claro que não. 

Mas defendo a volta para uma fé que repita a relação de equilíbrio entre o vertical e o horizontal vivenciado por Adão antes da queda. Nessa relação de equilíbrio, Adão desfrutava do Éden, mas comungava com Deus todos os dias ao entardecer, ou seja, não terminava o dia sem esse encontro com o Deus no jardim, fazendo do jardim, não um fim em si mesmo, mas um lugar de encontro com o Senhor .

Fazendo assim, o jardim, (Sonho de consumo da raça) não se torna maior que o Senhor. A comunhão com Deus passa ser mais importante e vital para o ser, e o jardim apenas uma dádiva de Deus, uma demonstração do amor de pelo homem, um meio e não o fim na satisfação das necessidades do homem.

Outro exemplo é Jesus , que ensinou várias vezes a ter uma devoção em relação a Deus que o honre, que o glorifique (Glorificar o pai é um termo que Jesus muitas vezes usou) e não apenas o solicite o invoque para socorro.

Que Deus nos guarde de viver uma fé e uma relação com Deus unilateral, deformada, deficitária onde os nossos interesses sejam o foco o tempo todo, e a nossa vida passe a ser o alvo supremo, o fim em si mesmo, o centro das atenções.

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